Educação fora da escola? Pode, sim!

Com pompa, estardalhaço e muito dinheiro, a UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância e a UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) lançaram uma campanha com título ambíguo e de tom ameaçador para as famílias homeschoolers brasileiras: “Fora da Escola Não Pode”. A campanha, de âmbito nacional, disponibiliza gratuitamente materiais de propaganda para uso por famílias, escolas, gestores públicos e mídia, procurando engajar toda a sociedade brasileira no combate à evasão escolar. O pretexto alegado para a campanha é o grande número de crianças e adolescentes, especialmente os de baixa renda que, devido ao estado de quarentena em que nos encontramos devido à pandemia de Covid-19, foram afastados do ambiente escolar. Segundo informam as entidades, boa parte desses jovens afastou-se definitivamente das aulas e avaliações online, por razões como “desmotivação” e “falta de acesso à internet”.

Embora seja possível, em princípio, considerar louvável o esforço de recuperação desses estudantes carentes para o ambiente escolar, é fato que nem sempre os belos motivos alegados coincidem com as verdadeiras razões por trás desse tipo de iniciativa. De início, a ambiguidade totalitária do mote da campanha “Fora da Escola não pode!” despreza todas as diferenças e a pluralidade de situações em que se encontram as diferentes famílias, especialmente as que adotaram a Educação Domiciliar. As crianças de famílias educadoras têm plenamente assegurado o seu direito a acesso à Educação de qualidade, pois sua principal motivação é escolher pessoalmente o melhor conteúdo didático disponível para seus filhos, assegurando-lhes a oportunidade de se tornarem adultos competitivos no mercado de trabalho nacional e internacional.

Não é mais possível esconder, sob o manto de um discurso social-vitimista, o fracasso absoluto do sistema escolar brasileiro, público e privado, na formação educacional de nossas crianças. A queda contínua do desempenho dos estudantes brasileiros ao longo dos últimos 20 anos nos resultados do exame de avaliação internacional PISA, aplicado pela OCDE, são evidência mais do que suficiente desse vexaminoso fracasso. Em 2003, nossos estudantes já amargavam um penoso 37º lugar em Leitura e uma lamentável 40ª posição em Ciências e Matemática. Após 15 anos em que os investimentos públicos em Educação em relação ao PIB cresceram sem parar, saltando de 3,88% no ano 2000 para 5,08% em 2015, nosso país despencou para as tenebrosas 59ª posição em Leitura, 63ª em Ciências e 66ª posição em Matemática em 2015, o ano de maior investimento percentual sobre o PIB na série histórica. No exame de 2018, o sistema escolar brasileiro conseguiu a proeza de cair ainda mais: oscilamos uma posição para cima em leitura, para o 58º lugar, porém, afundamos ainda mais em Ciências para a 67ª posição e praticamente atingimos o fundo do poço em Matemática, atolando-nos na mísera 71ª posição!

Em todo esse discurso “pró-escola”, esses fatos são cuidadosamente escamoteados, jogados para segundo plano, quando deveriam receber todos os holofotes. Quanto mais dinheiro o governo injeta no sistema escolar, piores se tornam os resultados.

Nunca essa realidade se tornou tão visível para o cidadão comum como durante o sofrido período de quarentena a todos imposto pela nefanda pandemia de Covid-19. Com os filhos afastados da escola, os pais, também afastados temporariamente de suas atividades profissionais presenciais, testemunharam horrorizados a medonha falta de qualidade das aulas e do conteúdo programático ministrado a seus filhos. Durante o período de quarentena, dezenas de famílias entraram em contato com nossas Associações de Famílias Educadoras pedindo informações e apoio à prática do homeschooling, sempre repetindo a mesma história, com apenas algumas variações nos detalhes: “Estou pagando uma fortuna em matrícula, mensalidades e material didático para manter meus filhos nesta escola de excelente reputação somente para ver que o conteúdo é superficial, muito mal ministrado e o material didático é, para dizer o mínimo, ridiculamente chinfrim”. Esses pais compartilharam conosco, em cada uma das centenas de contatos recebidos, sua convicção de que, caso continuassem na escola, seus filhos não receberiam nem mesmo o preparo necessário para enfrentar os mais simples e elementares problemas da vida adulta, seja no âmbito acadêmico, profissional ou pessoal. Os depoimentos de famílias que mantinham seus filhos em escolas públicas também não diferem em nada nesse ponto, apenas acrescentando alguns detalhes especificamente escabrosos pertinentes ao sistema público de ensino de nosso país.

É por esse motivo que contrapomos à campanha milionária da Unicef/Undime nosso próprio mote: “Educação fora da escola? Pode sim!”. Não aceitamos ser confundidos com aqueles cidadãos irresponsáveis que mantêm seus filhos fora da escola por simples preguiça, desídia, ignorância ou seja qual for a outra motivação. Quando assumimos a Educação integral de nossos filhos, erguemo-nos contra um sistema escolar que se transformou num abominável monstro devorador de dinheiro público e privado, sem oferecer a mínima contrapartida em termos de ensino e aprendizagem para nossos filhos. Nossa motivação é o amor superlativo que, como pais, nutrimos pelas nossas crianças, desejando para eles sempre todo o melhor em cada aspecto de seu desenvolvimento pessoal e profissional, para que se tornem adultos bem-sucedidos, saudáveis, competentes, capazes de efetivamente contribuir para o desenvolvimento de nosso país e sua inserção competitiva no cenário internacional, todos esses objetivos abandonados pelo sistema escolar brasileiro público e privado.

6 comentários

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  1. Boa tarde poderia entrar em contato

  2. Eu acompanhei a aprovação de passar a valer de forma constitucional desde novembro o homescooling aqui em sc.
    Só que um detalhe me pegou de surpresa:o fato de o responsável pelo ensino no lar dever ter graduação superior, e eu não tenho, embora queira afastar meu filho de doutrinacões antibíblicas. Então eu fiz vestibular e passei e agora estou cursando bacharel em Teologia, só por causa do meu filho.
    Vi notícias na Internet de que o homescooling foi proibido novamente.
    Eu preciso de ajuda, não sei se para o homescooling é necessário matricular a criança numa escola on-line e pagar mensalidade ( eu não tenho condições) ou se somente o ensino dado pelos pais é aceito, e se de fato podemos ensinar em casa.
    Espero um retorno. Obrigada.

    • MICHAEL HENRY CAMPOS DOS SANTOS em 26/01/2021 às 14:17
    • Responder

    Infelizmente grande parte das escolas profissionais da educação não cumprem o seu papel, nós pais não vamos ficar omissos e deixar nossos filhos à mercê de uma política pública ineficiente, métodos de ensino engessado, e abandono em sentido de segurança física, emocional e sanitária. Exige esforço e dedicação educar os filhos, ninguém faria isso se não existisse a necessidade de proteção às crianças. Quem tem um filho com necessidades especiais, ou que por algum motivo é diferente da maioria, sente na pele o sofrimento causado pela obrigatoriedade de frequentar um ambiente muitas vezes hostil e despreparado. É nosso direito constitucional educar nossos filhos. Usar todas as boas ferramentas disponíveis e ajudá-los a se tornarem boas pessoas, bons cidadãos e futuros bons chefes de família. Não estamos pedindo e sim exigindo que os direitos sejam respeitados.

  3. Ola, bom dia.
    Gostaria de saber se aqui em SC, como a cidade de Cascavel/PR, o projeto de lei ja foi aprovado. Grata. Luciana.

    • Flavio Amaral em 26/10/2020 às 09:26
    • Responder

    Adorei o lema!
    “Educação fora da escola pode sim!”
    Aliás, o que mais existe na nossa vida é educação fora da escola. Tá na hora de apontar o dedo para esses burocratas e perguntar para eles se existe educação dentro das escolas. Pq o que existe lá é um completo descaso e abandono!

      • MICHAEL HENRY CAMPOS DOS SANTOS em 26/01/2021 às 14:19
      • Responder

      Concordo e assino embaixo. É direito dos pais e dos filhos buscarem o melhor.

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